O que vai acontecer com meus filhos?

Sou brasileira presa em Hong Kong. Tenho 24 anos e venho de Fortaleza. Tenho cinco filhos. Sou filha de pais separados e fui criada pelos meus avós no interior de São Paulo, indo morar em Fortaleza em 2020.

Morava eu e meus filhos. Sempre trabalhei e lutei muito por eles, não tinha ajuda de ninguém. Minha família sempre ganhava só o que dava para sustentar e nunca tive ajuda dos meus pais que, logo após a separação, me abandonaram. Não iam me ver e nem ligavam.

Há alguns meses, me vi em um momento de desespero, onde me encontrava desempregada, com contas e aluguel atrasados e sem dinheiro nem para alimentação. Para piorar, meu filho de cinco meses teve uma crise de bronquite. Eu chorava noite e dia sem saber o que fazer. Nisso, uma conhecida me ofereceu um serviço e disse que o valor pago seria de grande ajuda para mim. 

Naquele momento, me parecia uma solução, então aceitei sem nem ao menos perguntar o que era, pois não tinha medo de trabalhar, seja de faxineira até catadora de lixo, mas não imaginei que fosse algo tão grave. Ela disse que eram só quinze dias fora, então deixei meus filhos mais velhos com o “pai” e o mais novo com um casal de amigas minhas. 

Ao chegar em São Paulo, fui para uma casa com vinte pessoas. Quando foi à noite, chegou um homem moreno, uns 35 anos, que falava inglês e português, aparentava ser africano e perguntou o porquê de eu estar ali. Então contei minha situação e ele disse que iria me emprestar o dinheiro e, após o término do serviço, eu o pagaria. Não pensei em mais nada, aceitei achando que era um milagre por vir. 

Na hora que ouvi aquilo, meu medo bateu e perguntei sobre ir presa.

Então ele disse que teríamos que tomar remédio por uma semana, que seria um tratamento para o corpo aguentar transportar drogas. Na hora que ouvi aquilo, meu medo bateu e perguntei sobre ir presa. Ele disse que não tinha perigo, pois o último que foi preso fazendo isso foi em 2016, mas mesmo assim quis desistir. Porém, não teria como pagar o dinheiro que ele me emprestou e nem como ir embora. Não queria ficar devendo ele, pois vai saber o que faria com meus filhos ou família. 

No outro dia, ele me levou para fazer passaporte, comprar roupas, malas e explicou como era. As drogas eram bem embaladas em formato de cápsula e que iria ter que ingerir. A cada momento, meu medo só aumentava. Ele disse que são cinco países de rota: Londres, Dublin, Amsterdam, Marrocos e Hong Kong, que seria o meu. Durante o tratamento, ele fazia ‘reuniões’ explicando como andar, falar, se comportar e o principal, não chamar atenção.

No dia 06/05, por volta das 23:00 horas, ele trouxe as cápsulas em três tamanhos: grande = 155,00 reais, média = 125,00 reais, pequena = 100,00 reais. Eu só precisava de 100 da pequena para pagar ele e tudo aquilo acabar. Quando cheguei nas 60 mais ou menos, comecei a passar mal e ele aplicou uma vitamina para mim melhorar. Então fiz as 100 e pensei em fim livre, mas as coisas só pioraram.

No dia 08/05, desci no aeroporto de Hong Kong e a alfândega me parou e encheu de perguntas. Fiz revista íntima e raio X. Então fui levada ao Hospital Queen Elisabeth e presa por tráfico de drogas. E sabe o que pensei? Só nos meus lindos filhos e como fui burra em acreditar que aquele dinheiro era um milagre. 

No dia 22/05, cheguei no presídio de Tai Lam, onde tenho notícia da minha família apenas uma vez por mês. Sinto um buraco dentro de mim, pois no ato de desespero perdi minha vida, filhos e liberdade. Meu bebê, meus braços, os outros vão crescer sem mim e achar que eu os abandonei. E de que valeu o dinheiro, se com ele veio a dor da saudade, lágrimas e desespero? 

De que valeu tudo isso se me tirou dos meus filhos, se trouxe o medo, se não posso dormir e acordar com eles, se corro perigo de ficar 25 anos em uma prisão e perder toda a vida deles? O arrependimento bate toda hora. Nenhum dinheiro no mundo vale a mesma coisa. 

Mas aos conhecidos, não usem a dor e o desespero de ninguém para lhe mostrar esse caminho. E aquele homem, peço que pare de enganar as pessoas, dizendo que vai ajudar e, por fim, tirar mães de filhos assim como eu. Só conhece a dor quem se encontra no fundo do poço e sem poder exercer o papel de mãe, vendo seus filhos crescerem sem serem rodeados pelo amor que só uma mãe sabe dar. 

Hoje, rezo e peço para o juiz me dar a segunda chance e não deixar meus filhos crescerem sem mãe, pois eu, como várias pessoas, sei como dói não ter esse amor. E para as “mulas”, assim como eu fui, espero que entendam que tráfico não é solução e que, depois que entra na cadeia, é difícil sair. E aqui só tem desespero, lágrimas e saudades. 

Não acreditem nas falsas ajudas, onde o fim vai te trazer para o presídio onde sua mente e sua inimiga, pois nela vêm as lembranças dos momentos felizes e você chora por não poder revivê-los, de se sentir só, não poder ver ou ouvir quem você ama. Onde só tem dor e solidão e não abraços, beijos e um “te amo” de quem realmente te importa. 

O tráfico ou qualquer outra coisa que te tire filhos, ou família ou sua liberdade não compensa. Dinheiro nenhum acaba com a dor de não ter meus filhos comigo.

Dinheiro nenhum acaba com a dor de não ter meus filhos comigo. Não sou bandida, sou uma mãe que se viu em desespero. Sonho e tenho fé que logo terei o abraço quentinho dos meus cinco anjinhos. Então, antes de aceitar uma ‘solução’, veja o quanto pode ser dolorido as consequências e sabe o que fazer? Correr para bem longe de qualquer perigo que te coloque atrás das grades. Aqui está a história de uma mãe que sofre sem seus filhos.